Relaxamento e meditação não é a mesma coisa: Veja as diferenças
“Hoje em dia, se ouve muito ‘vai meditar’, como se fosse a solução para tudo, um antídoto que você toma para desestressar e, em vinte minutos, tudo estará bem. Mas não podemos tratar a meditação como algo simplista”, afirma especialista em expansão da consciência
Em meio à pandemia, são diversos os estudos que comprovam o número crescente de casos de depressão, suicídio, síndrome de Burnout, entre outros males que estão afetando uma parcela significativa da população mundial, que até então não havia demonstrado tendência para esses estados mentais. Junto a isso, há o aumento do número de orientações infinitas para o autocontrole emocional, entre elas da meditação.
No entanto, Fernando Gabas, criador do protocolo de meditação e expansão da consciência, Life Matters, alerta para o perigo de banalizar a meditação. “Hoje em dia, se ouve muito ‘vai meditar’, como se fosse a solução para tudo, um antídoto que você toma para desestressar e, em vinte minutos, tudo estará bem. Mas não podemos tratar a meditação como algo simplista”, ressalta.
Para o especialista, ambas as práticas são essenciais, mas cumprem propósitos distintos, existindo uma diferença entre as práticas de relaxamento, com concentração e de forma reflexiva, e a meditação. Segundo ele, as técnicas de relaxamento são válidas para quem busca o bem-estar mais momentâneo ou para desestressar. O que é distante de uma prática estruturada. Gabas defende o conceito de meditação a partir de práticas progressivas e sequenciais que incorporam muito estudo, investigações e exercícios, com caráter científico. “Meditar é transcender o mecanismo cerebral, trabalhando um espaço anterior à mente e seus processos de pensamentos. Se não tivermos método para isso, não há progressão para mudanças substanciais de comportamento. Esse objetivo profundo e científico é bem diferente de usar a meditação simplesmente para reduzir o estresse”, explica.
A Eureca do EU
É sabido, por estudos de universidades renomadas, com as de Yale (EUA) e Toronto (Canadá), que os meditadores experientes têm outras redes cerebrais ativas e que, após dois meses de prática diária, com duração de 45 minutos, o indivíduo apresenta diminuição da chamada “Default Mode Network”, atividade cerebral conhecida como responsável por pensamentos centrados no ‘eu’ e presos ao passado e ao futuro.
“Com o Default desativado, o cérebro trabalha a partir de outros sistemas, mais presentes e mais produtivos. Nas turmas que acompanho, depois de oito semanas, observamos uma transformação efetiva das programações mentais. Os alunos chegam a relatar um índice acima de 65% na melhoria de fatores como mais presença, alegria, calma e capacidade de autorregulação”, conta Fernando que já reuniu mais de 500 brasileiros na metodologia criada por ele em um protocolo de aulas reunidas em módulos, cada qual com a duração de dois meses.
Contudo, o especialista alerta que esse tipo de meditação é indicado para aqueles que possuem um questionamento existencial do ‘quem eu sou’, e buscam conhecer a razão por detrás das coisas, não esperando algo pontual e sim uma transformação.
“Temos uma proposta científica e profunda, que se inicia com o recondicionamento de crenças limitantes da mente, o que é feito por meio de conhecimentos e práticas que proporcionam essa experiência. Com o desenrolar dessa jornada sequencial do Protocolo, os participantes experienciam o verdadeiro autoconhecimento, algo muito mais abrangente e transformador”, destaca. Adriana Tristão, 38, especialista em medicina tradicional chinesa, uma das praticantes do protocolo, relata mudanças no comportamento desde que passou a considerar a meditação como uma jornada de autoconhecimento. “Para mim, não se trata de alcançar um estado maior de relaxamento. O que adianta enveredar por uma auto-observação se não foi feito um trabalho anterior de dissolução de condicionamentos, como culpa e aceitação. Nada pode ser aleatório. É um processo que vai sendo construído, pois uma meditação precisa da outra. Essa jornada construí com base em muito estudo e prática e me confere um autocontrole e um estado de consciência, que percebi principalmente nesse período de pandemia. Ser feliz não é fácil, é preciso treinar para isso também”, conta Adriana, que mora na China e aguarda há quatro meses a autorização do governo chinês para retornar ao país com a família.