Diabetes: mais uma das possíveis sequelas da COVID-19

Endocrinologista Dra. Mariana Carvalho de Oliveira explica como a infecção pode desencadear a doença, seus principais sintomas e cuidados

Mais de um ano após o primeiro registro de Covid-19 no Brasil e os cientistas ainda travam uma luta diária para entender todas as sequelas ocasionadas pela doença e porque elas podem se manifestar de maneiras tão diversas em cada indivíduo.

Uma pesquisa realizada por cientistas do Canadá, Índia e Austrália, publicada recentemente na revista “Diabetes, Obesity and Metabolism” analisou um total de 3,7 mil pacientes a fim de entender os impactos comuns da COVID-19. Os dados revelaram que 14% dos internados com quadros graves da doença desenvolveram diabetes.

Segundo a endocrinologista Dra. Mariana Carvalho de Oliveira, os mecanismos pelos quais a COVID-19 desencadeia diabetes ainda estão sendo estudados, mas algumas pesquisas já sugerem que, em algumas pessoas, o vírus causa efeitos diretos no metabolismo da glicose, que são associados ao processo inflamatório e às alterações no estado imunológico, além de poder afetar negativamente a função do pâncreas.

Ainda de acordo com a especialista, a Sars-CoV-2 entra nas células humanas através de uma enzima chamada conversora de angiotensina 2 (ECA2) e os receptores desta enzima estão presentes em vários órgãos, entre eles, as células β pancreáticas.

“Estas células são responsáveis pela produção de insulina, e quando afetadas, podem causar uma deficiência na produção deste hormônio e uma consequente elevação da glicose no corpo. Em alguns casos, podem ocasionar até uma complicação aguda grave chamada de cetoacidose diabética”, explica.

Desta maneira, é possível que o SARS-CoV-2 cause alterações pleiotrópicas do metabolismo da glicose, que complicam a fisiopatologia de um diabetes preexistente ou origine novos mecanismos para o desenvolvimento da doença.

“Evidências atuais também têm sugerido que existe uma relação bidirecional entre diabetes e COVID-19, uma vez que, além do vírus poder desencadear aumento da glicemia, as pessoas que já são portadoras de diabetes também podem apresentar complicações e quadros mais graves em razão da infecção. Este risco aumenta, quanto maior for o descontrole glicêmico”, diz.

Grupos de risco, manifestações e formas de tratamento

Independente do surgimento da diabetes se dar pela COVID-19 ou não, sua manifestação geralmente ocorre de acordo com o grau de acometimento do metabolismo da glicose e do funcionamento do pâncreas. Pessoas com mais fatores de risco (obesidade, sedentarismo, hipertensão, histórico familiar etc.) para diabetes, tendem a apresentar uma chance maior de desenvolvimento após a infecção pelo Sars-Cov-2.

Logo, é preciso ficar atento aos principais sintomas de quando há uma elevação da glicemia, como mal-estar, cansaço, aumento da fome, perda de peso voluntária, aumento do volume da urina ou visão turva. A Dra. Mariana ainda ressalta que a diabetes nem sempre é sintomática, então a melhor maneira de se chegar a um diagnóstico é através de exames que possam medir a glicose no sangue.

Já o tratamento deve ser sempre individualizado, com a utilização de medicamentos específicos para cada paciente. “Independentemente do grau de acometimento que a doença possa causar, é imprescindível que ocorra uma reeducação dos hábitos alimentares e prática de atividade física para que haja um controle efetivo da glicose”, explica a endocrinologista.

Quem é Dra. Mariana Carvalho de Oliveira?

Nascida em Araraquara, formou-se em medicina pelo Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto. É especialista em Clínica Médica e em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Atualmente, trabalha no Hospital Estadual de Américo Brasiliense (HEAB) e é professora e preceptora do curso de Medicina da Universidade de Araraquara (UNIARA), além de atender em seu consultório localizado na mesma cidade.

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