Operação com 26 mortos: MP acompanha desdobramentos da ação de organização criminosa e da intervenção policial em MG
Segundo promotor, comissão será composta por quatro membros, que vão investigar a atuação da quadrilha que estava em Varginha (MG) e dos militares que participaram da ação.
O Ministério Público de Minas Gerais designou uma comissão para acompanhar os trabalhos de apuração sobre a operação da Polícia Militar contra uma quadrilha de assalto a bancos que terminou com a morte de 26 pessoas em Varginha. A comissão teve a primeira reunião presencial nesta quarta-feira (3) na sede do Ministério Público de Varginha.
De acordo com o promotor Igor Serrano, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a comissão irá acompanhar os desdobramentos da investigação a atuação da quadrilha que estava em Varginha e dos militares que participaram da ação.
“O procurador geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, Dr. Jarbas Soares Júnior, designou uma comissão para acompanhar juntamente com a promotora natural, Dra Eliane, os trabalhos em relação aos eventos ocorridos na cidade de Varginha. Em razão de ser o MP o guardião da Constituição Federal, defensor da sociedade e ter a missão de promover a ação penal pública, e também a missão de realizar investigações e paralelamente o controle externo da atividade policial, vai atuar nessas duas áreas acompanhando os desdobramentos dessa ação”, disse o promotor.
Segundo o promotor, essa comissão será composta por quatro membros que vão investigar a atuação da quadrilha que supostamente cometeria o ataque a agências bancárias em Varginha e também a atuação da Polícia Militar no caso.
“O Ministério Público está em diálogo com a Polícia Federal, a Polícia Civil e com a própria Polícia Militar, para acompanhar de perto esses trabalhos que estão sendo realizados. Vale lembrar, em duas frentes bastante distintas, a frente de averiguação da atividade da própria organização criminosa que se postou na cidade para supostamente a prática daqueles crimes, de acordo com os elementos que foram até aqui colhidos, com aquele armamento de guerra e naturalmente dentro da sua missão de exercer o controle externo da ação policial, também verificar a legalidade da ação estatal”, disse o promotor.
Segundo o promotor, a abertura de uma investigação é natural em qualquer episódio em que ocorra a ação estatal e que termine em morte.
“Vale lembrar e aqui que fique muito bem destacado, em qualquer ação estatal que ocorra um óbito, que ocorra uma perda de uma vida, seja ela qual for, é instaurado uma investigação para apurar as circunstâncias daquele evento, isso é algo natural, o inquérito policial é sempre instaurado nesses casos e ao final ele vai ter a conclusão da legalidade ou ilegalidade eventualmente da ação estatal. Mas é um procedimento comum, que ocorre em qualquer caso e é um procedimento que o MP está acompanhando também, ao lado do acompanhamento sempre primordial e sempre bastante necessário dos desdobramentos e eventual responsabilização de outras pessoas pela guarda daquele armamento e do planejamento daquele ato que aconteceria na cidade de Varginha se não tivesse ocorrido a intervenção estatal”, completou Igor Serrano.
Operação e confronto
A operação conjunta entre Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) resultou na morte de 26 suspeitos de pertencerem a uma quadrilha roubos a bancos no domingo (31) em Varginha (MG). De acordo com a PM, os suspeitos seriam especialistas neste tipo de crime.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, os confrontos com os homens ocorreram em dois sítios diferentes localizados em duas saídas da cidade. No primeiro, localizado na região do bairro rural da Flora, na saída para Três Corações e a 4 km do Batalhão da PM na cidade, os suspeitos atacaram as equipes da PRF e da PM, sendo que 18 criminosos morreram no local. Segundo a polícia, o batalhão da PM também seria um dos alvos da quadrilha.
Em uma segunda chácara, que fica na saída para Três Pontas, a 200 metros da MG-167, conforme a PRF, foi encontrada outra parte da quadrilha e neste local, após intensa troca de tiros, sete suspeitos morreram. A 26ª morte, do caseiro, foi confirmada só na manhã desta segunda-feira (1º). Ele também estava na chácara.
Ao todo foram apreendidas 26 armas, dois adaptadores, 5.059 munições, 116 carregadores, capacetes à prova de balas, explosivos diversos, 12 coletes balísticos, sete rádios comunicadores, 12 galões de gasolina de 18 litros cada e quatro galões de diesel de 100 litros cada. Entre as armas, havia uma metralhadora ponto 50, além de fuzis e granadas. Pelo menos 12 veículos roubados que estavam com a quadrilha foram recuperados.
Ainda conforme o Bope, todos os suspeitos chegaram a ser socorridos com vida, mas não resistiram. Nenhum policial ou civil ficou ferido na ação.
Apuração sobre as mortes
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais pediu uma apuração sobre as mortes. A deputada Andréia de Jesus (PSOL), presidente do colegiado, diz que vai acionar o Ministério Público e a Secretaria de Segurança Pública investigar o caso.
Em nota, a Comissão de Direitos Humanos da Subseção da OAB Varginha informou que busca atuação integrada com a Comissão de Direitos Humanos da OAB Minas Gerais para acompanhamento de todas as investigações e demais procedimentos.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública também acredita que uma investigação deve ser feita para apurar a ação.
“A gente sempre lembra que o policial só é policial porque pode fazer o uso da força e essa força pode chegar a matar outra pessoa, mas isso não se faz desprovido de regras e limites, é preciso entender se nessa operação em Minas Gerais houve um abuso desse limite, ultrapassou-se esse limite para gerar 25 mortes (atualizado para 26 posteriormente). Como eu disse, é muito raro no Brasil que uma única operação policial tenha como resultado, além da grande apreensão de armas, a frustração de um crime como assalto a bancos como vem acontecendo Brasil afora, o resultado de 25 mortes. É preciso esforço do Ministério Público e das corregedorias das polícias investigar se houve ou não abuso ou houve ou não letalidade policial”, disse o membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Ivan Marques.
Fonte: G1 Sul de Minas