Multinacional vai gerar energia térmica a partir de restos de alimentos em fábrica de MG; saiba como funciona
Segundo a companhia, a fábrica de Pouso Alegre (MG) será a primeira do Estado de Minas Gerais a ter energia térmica com base em biogás.
A multinacional Unilever, que possui uma fábrica de produtos alimentícios em Pouso Alegre (MG), anunciou em celebração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta segunda-feira (5), que vai adotar energia térmica e limpa em sua unidade na cidade. Segundo a companhia, a fábrica será a primeira do Estado de Minas Gerais a ter energia térmica com base em biogás.
De acordo com a empresa, está sendo implantado na fábrica um biodigestor com capacidade de produzir energia térmica e renovável para 100% do abastecimento da unidade na cidade. O sistema também vai tratar cerca de 80% dos resíduos orgânicos gerados pelo processo produtivo.
“É um super orgulho para nós termos a primeira fábrica a ter energia térmica no estado de Minas Gerais com base em biogás. Isso é uma super inovação para o estado e um orgulho porque é parte de um processo maior. Nós temos o compromisso de zerar as nossas emissões até 2039 e, no marco desse compromisso, nós iniciamos esse processo nas nossas plantas industriais”, disse Suelma Rosa, head de Assuntos Corporativos, Governamentais e Sustentabilidade da empresa.
Segundo a empresa, com a implementação do uso de biogás produzido a partir de resíduos orgânicos, a fábrica será capaz de reduzir suas emissões de dióxido de carbono (CO2) em 300 toneladas por ano. Essa redução equivale a 166 carros em um ano, rodando aproximadamente um milhão e oitocentos mil quilômetros.
“O investimento é por volta de 48 milhões de reais. É mais importante que o volume do investimento. E, obviamente, é um investimento significativo e traz muitos benefícios para o Estado, movimentando a economia. O importante é que a tecnologia é uma tecnologia viável para que outras empresas possam se inspirar no Estado de Minas e possam replicar esse modelo”, completou Suelma Rosa.
Geração de energia a partir de resíduos
O processo de biodigestão está projetado para funcionar 365 dias por ano, com a finalidade de garantir um fornecimento contínuo de biogás, além do tratamento de resíduos orgânicos provenientes de processos produtivos.
Segundo a representante da empresa, o processo que será feito na fábrica funciona como um processo de compostagem caseira, só que em maior escala.
“Basicamente, na biodigestão, a gente pega as sobras do processo produtivo, que são de orgânicos, e aí são restos de alimentos, mas também podem ser rejeitos da estação de tratamento de efluentes, por exemplo. Ali a gente vai comprimir e fazer alguns processos industriais que são mais complexos. Não é muito diferente se a gente pensar de como funciona na nossa casa, de como funciona um processo de compostagem”.
No processo de biodigestão anaeróbica, tem como resultado a geração de gás. E é esse gás, desse processo de biodigestão, é que a gente transforma em energia térmica. Na compostagem caseira também produz um pouquinho de gás, só que não é suficiente pelo volume para se transformar em energia.
“Esse processo é um processo que direciona duas grandes soluções. A primeira é essa solução de energia, que é fundamental e é o que permite que a fábrica se transforme em neutra em emissões de carbono. O outro é dar tratamento para o resultado do processo industrial. Esse subproduto estava sendo tratado, mas agora ele se transforma em energia elétrica. Então são dois resultados em um só.
A companhia, que está presente em mais de 190 países do mundo, informou que tem como meta zerar até 2039 no Brasil a pegada de carbono de seus produtos desde a aquisição das matérias-primas até o ponto de venda.
O processo de transição energética tem prazo estabelecido para ser concluído até dezembro. Construído em concreto armado, a instalação tem capacidade de tratar 20 toneladas de resíduos orgânicos por dia.
Economia Circular
De acordo com o professor Rafael Farinassi, do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Lavras (Ufla), iniciativas como essa vão de encontro a um movimento que vem sendo adotado pelas empresas em busca da prática de uma economia mais ‘verde’.
“Essa é uma demanda de todas as indústrias hoje em dia, de todas as empresas. Essas empresas estão pensando justamente na questão da economia circular. Então trazer isso de forma de economia circular para as indústrias é uma vantagem, porque você acaba usando o que era um resíduo, um lixo talvez, acaba usando como matéria-prima para produzir no caso da empresa, o biogás e vai impactar em sua economia, porque vai acabar reduzindo a questão de energia”, disse o professor.
Segundo o professor, o Brasil ainda está caminhando nesse aspecto, mas nos últimos tempos os passos começaram a ser mais efetivos nessas demandas.
“É agregar valor ao material que era considerado lixo, o resíduo, para transformar como matéria-prima para sua própria empresa ou para outras empresas produzirem outros produtos. Esse conceito de economia circular já vem sendo muito tratado e cada vez mais eu entendo que é o caminho para a questão econômica das próprias empresas”, concluiu o professor.
Fonte: G1 Sul de Minas